quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A educação durante o golpe de 64

Com o passar dos anos, continuava o desenvolvimento da educação no Brasil e com as novas propostas a partir da LDB parecia que estávamos no caminho certo rumo ao progresso. No entanto o contexto mundial não colaborava para tal situação. A guerra fria, onde o mundo estava se dividindo em 2 vertentes, se mostrava tendenciosamente socialista no Brasil, com João Goulart fazendo viagens à China comunista, condecorando Guevara e elevando o Brasil para uma nação mais justa com educação boa e gratuita para todos a partir do Estado. Na verdade, toda a América Latina estava com essa tendência, e vimos uma covardia do governo norte americano, desta vez outro João (John Kennedy) ao injetar dinheiro nos militares latino americano com o intuito de derrubar toda tendência de esquerda que pairava sobre nós. Dado o plano panorâmico de como estava conturbada a situação, sofremos um golpe político, mas não foi apenas uma mudança no governo caracterizado por ser mais rígido disciplinado e seguidor do american way of life*,que com essa politica melhoraria os rumos da nação. Não. Pelo contrário. Mas não quero induzir a nada, apenas vejam que foi feito nos anos seguinte ao golpe e que fique para a conclusão de vocês leitores, só digo que desses dados podemos descobrir um pouco das ruínas do nosso ensino, onde talvez grande culpa seja dos militares. Vejamos em 2 partes para não ser muito extenso e sim mais reflexivo, afinal temos muito o que analisar. Resolvi dividi-lo em 2 partes da seguinte forma 1 Parte - O fim do sonho – Onde falaremos de como foi estruturado o golpe, e quais as áreas que foram prejudicadas . 2 Parte – O inicio do pesadelo – Os anos em que os militares desenvolveram ainda mais seus projetos e o golpe que a educação levou no final das contas. Então vamos para a primeira parte 1- Parte – O fim do sonho Com o golpe implantado, a repressão foi a primeira medida tomada, a tudo e a todos considerados suspeitos de praticas ou mesmo idéias subversivas. A mera acusação de que uma pessoa, um programa educativo ou um livro tivesse inspiração comunista era suficiente para demissão, suspensão ou apreensão. Assim, reitores foram demitidos, programas educacionais e sistemas educativos foram atingidos. Um caso foi o do mentor do processo educacional até então utilizado Anísio Teixeira, reitor da UNB, logo após os primeiros dias de golpe foi demitido. O programa nacional de alfabetização que utilizava o método Paulo Freire, o que dirigia, foi liquidado, até mesmo em termos financeiros. Milhares de projetores de filmes educativos importados da polônia foram vendidos para as escolas particulares a preço de liquidação. No município de Natal no Rio grande do norte um oficial da marinha de guerra assumiu o comando da secretaria de educação e ordenou a incineração dos acervos das bibliotecas. Desta forma foram acabando com todo o programa de educação voltada para a população e traçando um desenvolvimento capitalista moderno no sistema educacional. Assim os defensores do ensino público foram aos poucos substituídos pela aliança dos que lutavam pela hegemonia da escola particular subsidiada pelo Estado, com os militares empenhados na repressão. Até mesmo a competição propriamente acadêmica passou a ter mediação da repressão política. Em 1964, Florestan Fernandes, sociólogo da USP preparava-se para disputar a cátedra de sociologia naquela universidade. Contando com uma bela dissertação que depois viria a ganhar prestigio internacional, estava preparado para o cargo e tinha como disputa apenas uma oponente cuja bibliografia não se registra na historia da universidade brasileira, mas tinha como amigo o governador golpista Adhemar de Barros. Pois bem, por interferência do governador Florestan foi preso as vésperas do concurso, o que deixava sem competidos o obscuro pretendente. Mas, como nos primeiros anos do governo ainda havia algumas áreas de liberdade, a opinião pública reivindicou a imediata libertação de Florestan. Solto conquistou a merecida cátedra. Pouco tempo nela permaneceu, pois a onda repressiva acionada pelo AI-5 aposentou-o retirando da USP e do meio universitário brasileiro um dos mais férteis cientistas sociais. Toda essa repressão é oriunda da Lei 477 de 26 de fevereiro de 1969, assinada pelo presidente Arthur Costa e Silva, o decreto estabeleceu rito sumário para demissões e desligamento de professores, funcionários e estudantes que praticassem infração disciplinar considerada subversiva nas universidades brasileiras. Entre as infrações tínhamos: aliciar ou incitar a deflagração de movimentos que tenha por finalidade a paralisação de atividade escolar ou participar nesse movimento; praticar atos destinados a organização de movimentos subversivos, passeatas, desfiles ou comícios não autorizados ou deles participar; conduzir ou realizar, confeccionar, imprimir ter em deposito, distribuir material subversivo de qualquer natureza. Se algum professor ou funcionário fosse pego em pratica ficava proibido de ser nomeado ou admitido por qualquer outro estabelecimento de ensino num prazo de 5 anos. Se fosse estudante por 3 anos. Por exemplo, a nossa rotina costumeira de reclamar que um professor é ruim, da aula lendo livro, não sabe passar o conteúdo, temos um exemplo da época: Diário Oficial “Alunos detidos da universidade no curso de medicina por rejeitarem o ensino de anatomia por um professor que se resumia a ler os artigos de anatomia humana de Testut e Latarjet” Aqui então vejo que começa as atrocidades para fazer com que as faculdades deixassem de ser um lugar de fazer ciência, e se tornar um replicador de conteúdo, onde basta ter presença – ouvir – reproduzir, para conseguir seu certificado. Assim a apatia dos outros resultou no desleixo para com o ensino, no cinismo docente, tendo como contrapartida o desinteresse para com o estudo, expresso pela atitude estudantil de repetir o que o professor espera mesmo o absurdo e o injusto, desde que a promoção estivesse assegurada. Então a próxima vez que reclamar de um professor, saiba leitor, que você esta fazendo nada mais do que exigindo seu direito de fazer ciência e não de ser mais um tijolo na parede! Encerro aqui a primeira parte deixando a reflexão com vocês... Será que a educação que temos hoje foi prejudicada por esse período? Temos como contornar tal educação? Como você se sente tendo ou não um diploma de que você é apenas um reprodutor de conhecimento? Será que o estado nos quer numa bolha? E a principal delas, qual o limite da compreensão humana? Em breve a 2 parte .....